Dizem por aí que sou mulato, moreninho, escurinho, de cor... Não. Eu sou negro. Lamento quando pessoas negras têm vergonha de se aceitarem negras e se dizem “pardas”. Qual a diferença? O azul pode ser claro, escuro, celeste, turquesa, mas é sempre azul. Da mesma forma, o negro. Não importa o tom da pele, mas o sangue que corre nas veias... negro! Sangue de gente que foi arrancada de sua terra, de sua família, de seus amigos, de seus amores e trazida para um lugar totalmente novo, desconhecido, hostil. Sangue de gente que trabalhou obrigada, amarrada, acorrentada, forçada e deu sangue, sim, literalmente o sangue neste Brasil. Sangue de quem foi humilhado, maltratado, perseguido, acuado. Sangue negro. Sangue.
Assim como o azul do céu tem sua beleza, o verde das folhas ainda mais e o amarelo do sol seu brilho intenso, como negro (sim, negro), tenho valor. Minhas mãos, na pele de bisavôs e tataravôs, cultivaram a terra, ergueram construções, lavraram fazendas, cozinharam em várias casas, venderam mercadorias, embalaram crianças, esfolaram-se em moendas... Há do que se envergonhar? Há de se envergonhar do trabalho? Sou negro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário